Caros alunos do 3º B e C do Colégio Estadual Filinto Justiniano Bastos, ano 2010, este é um espaço de troca e socialização das aprendizagens e atividades desenvolvidas na disciplina de Sociologia, ministrada pela professora Laiza Miranda. Sejam bem vindos!

terça-feira, 23 de março de 2010

Uma reflexão sobre cidadania

O encontro "Vem ser cidadão" reuniu 380 jovens de 13 estados, em Faxinal do Céu (PR). Ele foram trocar experiências sobre o chamado protagonismo juvenil.
O termo pode até parecer feio, mas essas duas palavras significam que o jovem não precisa de adulto para encontrar o seu lugar e a sua forma de intervir na sociedade. Ele pode ser protagonista.

Depoimentos de jovens participantes do encontro:

"Eu não sinto vergonha de ser brasileiro. Eu sinto muito orgulho. Mas eu sinto vergonha por existirem muitas pessoas acomodadas. A realidade está nua e crua. (...) Tem de parar com o comodismo. Não dá para passar e ver uma criança na rua e achar que não é problema seu." (E.M.O.S., 18 anos, Minas Gerais)

"A maior dica é querer fazer. Se voce é acomodado, fica esperando cair no colo, não vai acontecer nada. Existe muita coisa para fazer. Mas primeiro você precisa se interessar." (C.S.Jr., 16 anos, Paraná)

"Ser cidadão não é só conhecer os seus direitos. É participar, ser dinâmico na sua escola, no seu bairro." (H.A., 19 anos, Amazonas)

Caros alunos, vejam agora esse vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=ScmqbN9Ou1s


Após todas essas leituras e discussões, partiremos agora para a prática:

Nos comentários, exponham as opiniões de voces sobre o que é ser cidadão e o exercício da cidadania; dêem exemplos de ações cidadãs no nosso cotidiano.

Espero a participação de vocês!

Um grande abraço!

O que é cidadania?

A origem da palavra cidadania vem do latim “civitas”, que quer dizer cidade. A palavra cidadania foi usada na Roma antiga para indicar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer. Segundo Dalmo Dallari:

“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”.

No Brasil, estamos gestando a nossa cidadania. Damos passos importantes com o processo de redemocratização e a Constituição de 1988. Mas, muito temos que andar. Ainda predomina uma visão reducionista da cidadania (votar, e de forma obrigatória, pagar os impostos... ou seja, fazer coisas que nos são impostas) e encontramos muitas barreiras culturais e históricas para a vivência da cidadania. Somos filhos e filhas de uma nação nascida sob o signo da cruz e da espada, acostumados a apanhar calados, a dizer sempre “sim senho?, a «engolir sapos”, a achar “normal” as injustiças, a termos um “jeitinho’ para tudo, a não levar a sério a coisa pública, a pensar que direitos são privilégios e exigi-los é ser boçal e metido, a pensar que Deus é brasileiro e se as coisas estão como estão é por vontade Dele.

Os direitos que temos não nos foram conferidos, mas conquistados. Muitas vezes compreendemos os direitos como uma concessão, um favor de quem está em cima para os que estão em baixo. Contudo, a cidadania não nos é dada, ela é construída e conquistada a partir da nossa capacidade de organização, participação e intervenção social.

A cidadania não surge do nada como um toque de mágica, nem tão pouco a simples conquista legal de alguns direitos significa a realização destes direitos. É necessário que o cidadão participe, seja ativo, faça valer os seus direitos. Simplesmente porque existe o Código do Consumidor, automaticamente deixarão de existir os desrespeitos aos direitos do consumidor ou então estes direitos se tornarão efetivos? Não! Se o cidadão não se apropriar desses direitos fazendo-os valer, esses serão letra morta, ficarão só no papel.

Construir cidadania é também construir novas relações e consciências. A cidadania é algo que não se aprende com os livros, mas com a convivência, na vida social e pública. É no convívio do dia-a-dia que exercitamos a nossa cidadania, através das relações que estabelecemos com os outros, com a coisa pública e o próprio meio ambiente. A cidadania deve ser perpassada por temáticas como a solidariedade, a democracia, os direitos humanos, a ecologia, a ética.
A cidadania é tarefa que não termina. A cidadania não é como um dever de casa, onde faço a minha parte, apresento e pronto, acabou. Enquanto seres inacabados que somos, sempre estaremos buscando, descobrindo, criando e tomando consciência mais ampla dos direitos. Nunca poderemos chegar e entregar a tarefa pronta, pois novos desafios na vida social surgirão, demandando novas conquistas e, portanto, mais cidadania.

(DALLARI, Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p.14)

Cidadão e Cidadania


Afinal, o que é ser cidadão?


Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho justo, à saúde, a uma velhice tranqüila.


Como exercemos a cidadania?


Cidadania é a expressão concreta do exercício da democracia. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais. Expressa a igualdade dos indivíduos perante a lei, pertencendo a uma sociedade organizada. É a qualidade do cidadão de poder exercer o conjunto de direitos e liberdades políticas, socio-econômicas de seu país, estando sujeito a deveres que lhe são impostos. Relaciona-se, portanto, com a participação consciente e responsável do indivíduo na sociedade, zelando para que seus direitos não sejam violados.

A cidadania instaura-se a partir dos processos de lutas que culminaram na Independência dos Estados Unidos da América do Norte e na Revolução Francesa. Esses dois eventos romperam o princípio de legitimidade que vigia até então, baseado nos deveres dos súditos e passaram a estruturá-lo a partir dos direitos do cidadão. Desse momento em diante todos os tipos de luta foram travados para que se ampliasse o conceito e a prática de cidadania e o mundo ocidental o estendesse para a s mulheres, crianças, minorias nacionais, étnicas, sexuais, etárias.

Vizinhos e Internautas


Estudiosos do comportamento humano na vida moderna constatam que um dos males de nossa época é a incomunicabilidade. Já foi tempo em que, mesmo nas grandes cidades, nos bairros residenciais, ao cair da tarde era costume os vizinhos se darem boa noite, levarem as cadeiras de vime para as calçadas e ficar falando da vida, da própria e da dos outros.

A densidade demográfica, os apartamentos, a violência urbana, o rádio e mais tarde a TV ilharam cada indivíduo no casulo doméstico. Moro há 20 anos num prédio da Lagoa, tirante os raros e inevitáveis cumprimentos de praxe no elevador ou na garagem, não falo com eles nem eles comigo. Não sou exceção. Nesse lamentável departamento, sou regra.

Daí que não entendo a pressão que volta e meia me fazem para navegar na Internet. Um dos argumentos que me dão é que posso falar com pessoas na Indonésia, saber como vão as colheitas de arroz na China e como estão os melões na Espanha.

Uma de minhas filhas vangloria-se de ser internauta. Tem amigos na Pensilvânia e arranjou um admirador em Dublim, terra do Joyce, do Bernard Shaw e do Oscar Wilde. Para convencê-la de seus méritos, o correspondente mandou uma foto em cor que foi impressa em alta resolução. É um jovem simpático, de bigode, cara honesta. Pode ser que tenha mandado a foto de um outro.

Lembro a correspondência sentimental das revistas de antanho. Havia sempre a promessa: "Troco fotos na primeira carta". Nunca ouvir dizer que uma dessas trocas tenha tido resultado aproveitável.

Para vencer a incomunicabilidade, acredito que o internauta deva primeiro aprender a se comunicar com o vizinho de porta, de prédio, de rua. Passamos uns pelos outros com o desdém de nosso silêncio, de nossa cara amarrada. Os suicidas se realizam porque, na hora do desespero, falta o vizinho que lhe deseje sinceramente uma boa noite.
(CONY,Carlos Heitor. Vizinhos e internautas. Folha de São Paulo, 26 jun.1997. Opinião,p.42)


QUESTÕES PARA ANÁLISE

1) Você pensa que as mudanças na sociedade podem influir no comportamento das pessoas no espaço da família, da escola ou de outros grupos de convívio? De que forma?
2) No texto, Carlos Heitor Cony fala de mudanças que ocorreram em sua cidade nos últimos anos. No lugar onde você vive, ocorreram mudanças importantes nos últimos dez anos? Analise-as e verifique se elas alteraram o modo de vida e as relações entre as pessoas.
3) No seu entendimento, a Sociologia pode contribuir para que haja mais liberdade de pensamento e de ação? Justifique sua resposta.




Por que estudar Sociologia?

Você poderá avançar no entendimento de como funciona a sociedade em que você vive, conhecer como trabalham os demais privilegiados (a elite social) e aumentar sua autonomia de reflexão e de ação diante dos fatos que lhe cercam.

Avançar um pouco mais em relação a um conhecimento elaborado e investigativo vai lhe trazer um entendimento mais claro sobre como funciona a sociedade, dentre outras coisas.

Além do fato de que você terá maior autonomia para CONCORDAR OU DISCORDAR POR SI PRÓPRIO sobre as questões que você vive na sociedade.

Se não tivermos nossa independência de pensamento e ação, ou seja, se não conseguimos refletir sobre aquilo que vemos e ouvimos, ou se concordamos com tudo o que acontece, então podemos estar vivendo de forma alienada.

Segundo a filósofa brasileira Marilena Chauí, a alienação acontece quando o homem não se vê como sujeito (criador) da história e, nela, capaz de produzir obras. Para o homem alienado, e segundo esta mesma visão, a história e as obras produzidas nela são fatos estranhos e externos. E, sendo estranhos, tal homem não os pode controlar, ficando numa posição de dominado. Já o conhecimento pode nos fazer transformadores da história, e não apenas espectadores dela.

A Sociologia não é redentora ou solucionadora dos males sociais, ou dos problemas intelectuais das pessoas. Ela surge como uma ciência que vai fornecer novas visões sobre a sociedade.

Sua contribuição está no fato de nos dar referenciais para refletirmos sobre as sociedades.


O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
Apesar da ciência sociológica ser considerada nova, pois ela se consolidou por volta do século XIX, a angústia de se entender as sociedades, por sua vez, não é tão nova assim. Se olharmos para a Grécia Antiga, vamos ver que lá já havia o desejo de se entender a sociedade.

No século V a.C, havia uma corrente filosófica, chamada sofista, que começava a dar mais atenção para os problemas sociais e políticos da época. Porém, não foram os gregos os criadores da Sociologia.

No entanto, foi com os filósofos gregos Platão (427-347 a.C) e Aristóteles (384-322 a.C), que surgiram os primeiros passos dos trabalhos mais reflexivos sobre a sociedade. Platão foi defensor de uma concepção idealista e acreditava que o aspecto material do mundo seria um tipo de fruto imperfeito das idéias universais, as quais existem por si mesmas. Aristóteles já mencionava que o homem era um ser que, necessariamente, nasce para estar vivendo em conjunto, isto é, em sociedade. No seu livro chamado Política, no qual consta um estudo dos diferentes sistemas de governo existentes, percebe-se o seu interesse em entender a sociedade.

Séculos mais tarde, no período chamado de Idade Média (que vai do século V ao XV, mas exatamente entre os anos 476 a 1453), houve, segundo os renascentistas (que vamos conhecer mais à frente), um período de “trevas” quanto à maneira de ver o mundo.

Segundo eles, havia um prevalecer da fé, onde os campos mítico e religioso, tendiam a oferecer as explicações mais viáveis para os fatos do mundo. Na Europa Medieval, esse predomínio religioso foi da Igreja Católica.

Tal predomínio da fé, de certo modo, e segundo os humanistas renascentistas, asfixiava as tentativas de explicações mais especulativas e racionais (científicas) sobre a sociedade. Não cumprir uma regra ou lei estabelecida pela sociedade, poderia ser entendido como um pecado, tamanha era a mistura entre a vida cotidiana e a esfera sobrenatural.

O predomínio, na organização das relações sociais, dos princípios religiosos durou até pelos menos o século XV. Mas já no século XIV começava a acontecer uma renovação cultural. Era o início do período conhecido por Renascimento.

Os renascentistas, com base naquilo que os gregos começaram, isto é, a questionar o mundo de maneira reflexiva (como já contamos anteriormente), rejeitavam tudo aquilo que seria parte da cultura medieval, presa aos moldes da igreja, no caso, a Católica.

O renascimento espalhou-se por muitas partes da Europa e influenciava a arte, a ciência, a literatura e a filosofa, defendendo, sempre, o espírito crítico.

Nesse tempo, começaram a aparecer homens que, de forma mais realista, começavam a investigar a sociedade. A exemplo disso temos Nicolau Maquiavel (1469-1527) que, em sua obra intitulada de O Príncipe, faz uma espécie de manual de guerra para Lorenzo de Médici. Ali comenta como o governante pode manipular os meios para a finalidade de conquistar e manter o poder em suas mãos.

Era a doutrina do antropocentrismo ganhando força. O homem passava a ser visto como o centro de tudo, inclusive do poder de inventar e transformar o mundo pelas suas ações.

Já no século XVIII, houve um momento na Europa, chamado de Iluminismo, que começou na Inglaterra e na França, mas que posteriormente espalhou-se por todo o continente em que a idéia de valorizar a ciência e a racionalidade no entendimento da vida social tornou-se ainda mais forte.

Uma característica das idéias do Iluminismo era o combate ao Estado absoluto, ou absolutismo, que começou a surgir na Europa ainda no final da Idade Média, no século XV, em que o rei concentrava todo o poder em suas mãos e governava sendo considerado um representante divino na terra, uma voz de Deus, a qual até a igreja, não raramente, se sujeitava.
Consolidação do Capitalismo e a Revolução Industrial!
As transformações na sociedade européia não estavam ocorrendo somente no campo das idéias, como era o caso da consolidação da ciência como ferramenta de interpretação do mundo, que vimos até aqui.

Há também a consolidação do sistema capitalista, culminando com a Revolução Industrial, que ocorreu em meados do século XVIII, na Inglaterra, gerando grandes alterações no estilo de vida das pessoas, sobretudo nas das que viviam no campo ou do artesanato.

O sistema feudal da Europa Ocidental, estava sendo superado. Ele não conseguiria suprir as necessidades dos novos mercados que se abriam. O sistema capitalista, com base na propriedade privada e no lucro, isto é, na acumulação de capital, estava sendo consolidado.

A partir da Revolução Industrial (século XVIII), as cidades da Europa Ocidental começavam a se transformar em grandes centros urbanos comerciais e, posteriormente, industriais. Muitas delas “inchadas” por desempregados. O estilo de vida das pessoas estava se transformando – para alguns de forma violenta e radical – como era o caso de muitos camponeses que eram expulsos pelos senhores das terras que as cercavam para criar ovelhas e fornecer lã às fábricas de tecidos.